Pessoas formam filas em frente aos mercados para comprar açúcar, carros nas ruas com motores desligados viram esquinas, atrapalhando o tráfego, à espera de combustível.
Minibuses lotados, onde caberiam 10 pessoas com certeza vão 16 ou quantas couberem apertando-se e esmagando-se umas nas outras. “Squeeze azungus” é o que muitas vezes ouvimos.
Polícia rodoviária para fiscalizar os carros que vão e vem de um distrito a outro, e que cobram propina tranquilamente, principalmente dos minibuses quando estes não estão “adequadamente” apropriados para circularem (eles existem para atender a necessidade de transportes, visto que os cedidos pelo governo são pouquíssimos e nem sempre acessíveis economicamente à população), já as Grand Cherokee, Land Hover, Hilux ou qualquer outro carro importado com pessoas brancas imigrantes de todos os lugares do mundo – em sua maioria indianos, chineses, dinamarqueses (Sim os dinamarqueses! Os cabeças da Humana People to People, mas deixemos isso para uma próxima), “passam batido” e ainda acenam por vezes com um tchauzinho aos guardas, esses correspondendo com um sorriso maroto.
Combustível, comida, tudo a preços altíssimos. Moeda desvalorizada, crise política, econômica e social.
A maioria da população, sendo esta rural, trabalha plantando e colhendo seu próprio sustento, vendendo muito pouco do que produz, pouco do pouco que se alimenta.
Fome? Talvez não seja bem assim, mas má nutrição é o que há. Os alimentos cultivados não são o suficiente para uma boa e balanceada nutrição, faltam vitaminas e nutrientes de outras fontes como feijão, arroz, variedades de vegetais e frutas. Existe sim a estação da seca, e então a escassez aumenta. O que vemos costumeiramente na zona rural é a cana de açúcar, milho (do qual se produz a nsima, pronunciando-se sima), mandioca, banana, limão, abacate, abobora, trigo, couve, tomate, pequenas criações de bode, porco e galinhas; e muito pouco visto mesmo são os bois, cuja a carne é caríssima. Então para os carnívoros e com pouco poder aquisitivo, que venham os bodes!
Embora o Malawi, como muitos outros países no continente africano, tenha condições claras de produzir produtos de qualidade, acaba optando pela importação de leite e seus derivados por exemplo, cobrando dos consumidores preços abusivos e desleais. Refrigerantes da Coca-cola são vendidos à preço de banana, mais baratos que água, ao invés de produzir sucos com as frutas diversas existentes nessas terras. Aliás, suco natural esqueça, você não encontrará. Queijo? Nunca consegui comprá-lo, seu valor é fora da realidade.
Grandes exportações de riquezas naturais, no entanto, não são a saída ideal. Essa é a causa da crise do açúcar, por exemplo. Exporta tanto tanto, que para os próprios cidadãos não resta nada.
Com o falecimento de Bingu wa Mutharika, entra em cena a vice: Joyce Banda.
Sim, uma mulher.
Parece-lhe um pouco ousado para um país africano? No entanto podemos vê-las também à frente de importantes ministérios.
Segundo a constituição, existe um tempo de “experiência”, no qual o vice pode, ou não, “agradar a população”, esta, não satisfazendo-se, pode então pedir novas eleições; o que tiraria Joyce, neste caso, do poder.
Já pude perceber algumas manifestações entre políticos malawianos julgando ser uma vergonha nacional, uma mulher dirigir o país! Junta-se a esse tipo crítica, o novo seguimento da política econômica com a regência de Joyce. Vamos acompanhar até onde isso vai parar.
Mas não seria velho seguimento da política econômica? Velhas alternativas para escapar de velhas crises.
Abram as pernas!… Quero dizer…, as portas! pois vem aí: FMI e World Bank!
Mutharika era elogiado por alguns por defender o país da intromissão internacional, dos financiamentos, investimentos, aconselhamentos, ajudas e afins. Fechou a porta e mandou todos eles para o inferno! Essa frase, por sinal, saiu nos jornais: Donors go to Hell! Já outros muitos criticavam sua política como sendo ditatorial e permeada de corrupção.
Além da corrupção aparente e descarada, sua negação à ajudas internacionais abria uma exceção quando se tratava de China. Parceiros em muitos negócios, inclusive em se tratando do tabaco, este sendo, como muitos sabem, protagonista das cenas de exploração mais conhecidas no Malawi.
Exploração do trabalho infantil e exploração da economia nacional seguidas do enriquecimento torrencial de companhias internacionais, através do investimento em malefícios à saúde, que, por sua vez, trazem créditos à indústria farmacêutica!
Quanto ao tipo de regime ditatorial pelo qual era acusado, acho relevante fechar o cerco quando se trata das intromissões e mexericos internacionais para que se possa governar de acordo com as necessidades de seu país, olhar para dentro e oferecer mudanças de dentro para fora. Trabalhar com as riquezas naturais de forma a movimentar a economia interna: produção e consumo internos. Investimentos na área da educação para que a população nativa possa responder as expectativas das companhias nacionais, e que os profissionais, por sua vez, tenham condições justas para trabalhar, diminuindo dessa forma a exportação de profissionais nativos a países de primeiro mundo, como acontece na área da medicina, por exemplo. Mas deve-se ficar atento à perdição ideológica, sobre a qual exemplos não nos faltam, Rússia, Cuba…
by Pamela Zaparolli